sábado, 26 de março de 2011

CASO CLÍNICO DISCUTIDO

Homem, 30 anos, procedente de São Paulo, católico, joalheiro, cursou até o segundo ano do curso de enfermagem. Atividade atual: Tráfico de drogas. Atividades anteriores: garimpeiro, microempresário.

Utilização de drogas:

Aos 11/12 anos iniciou, nos finais de semana, o uso de maconha, tabaco e álcool.

Evoluiu para a segunda droga aos 14/15 anos com o uso de cocaína aspirada. Com recursos de seu próprio trabalho (balconista de loja de sapatos) utilizava de 1 a 2g, sempre depois do trabalho e manteve também o fumo da maconha.

Iniciou a terceira droga aos 15/16 - uso de Optalidon (propifenazona), mantendo o uso semanal das outras drogas.

Após cerca de 9 anos, ele (aproximadamente com 25 anos) passou a utilizar cerca de 5g por dia de cocaína aspirada, chegou a ir trabalhar numa colheita de refino de coca num país andino, recebendo 350 g de coca por um dia de trabalho de 8 horas, além do uso livre durante a jornada. Trazia cocaína para o Brasil para vender aos amigos.

Com 27 anos ele descobriu um ponto de venda de heroína em São Paulo, Capital. Não utilizou muito a droga de forma aspirada, como normalmente os viciados fazem; um amigo havia comentado com ele que aspirar a heroína causava perfuração de septo nasal, ele então passou a utilizar a droga na forma injetável. Aos 28 anos o uso da heroína era diário, de 5 a 6 vezes, cerca de 1g por dia. Fazia o uso da droga em casa de amigos ou no metrô; estas casas eram geralmente mansões na zona sul ou no litoral norte de São Paulo - casas que ninguém morava e ele e seus amigos iam até lá para utilizar a droga. Faziam parte do grupo 6 mulheres e 12 homens, com profissões variadas de modelos a empresários, todos adultos jovens.

Aos 30 anos passou a integrar o tráfico, a fazer viagens de moto para o Paraguai, trazendo as drogas para o Brasil.

Queixas no decorrer do seu uso crônico de drogas:

- Perda dos dentes;

- Ulcera gástrica que o levou ao hospital com possível necessidade de intervenção cirúrgica;

- Flebite (inflamação nas veias), devido o uso da heroína injetável;

Internação:

Ficou internado durante 2 meses num hospital público; na sua entrada ele apresentou sintomas de intoxicação aguda por opiódes, miose, pele seca. Em seguida, desenvolveu sintomas de abstinência pelos opiódes: sudorese, lacrimejamento, tremores, vômitos e cólicas abdominais, diarréia, febre, espasmos musculares, taquicardia, hipertensão, ansiedade, inquietação, perda de energia de apetite, fissura e delírios. Foi medicado, e houve melhoras após dois meses com remissão completa dos sintomas.

Discussão:

Aparentemente, no início do uso, as drogas propocionam sensação de prazer e bem-estar; entretanto, as conseqüências decorrentes do uso crônico podem incluir desde perdas materiais até questões legais e seqüelas físicas e psíquicas.

Observa-se, através do histórico do paciente, que ele iniciou o uso das drogas ainda jovem através de drogas chamas lícitas, como a nicotina e o álcool e foi progressivamente fazendo uso de drogas cada vez mais destrutivas. Essa tragetória é bastante comum entre dependentes químicos e reflete um grave problema social que envolve a necessidade de prevenção do uso álcool e nicotina entre jovens e adolescentes.

Um grave risco apresentado pela cocaína são as substâncias altamente tóxicas utilizadas na sua preparação. Durante a fase de extração do alcalóide, utiliza-se acido sulfúrico, querosene, gasolina,ou ácido clorídrico. Ela é, então, refinada até virar um pó branco. A cocaína pode ainda ser misturada a várias substâncias como talco, cimento ou pó de vidro, o que interfere na pureza e no potencial da droga.

A cocaína age na comunicação entre os neurônios, inibe recaptacao de dopamina e catecolaminas, bloqueia canais de sódio,e aumenta agregação plaquetária. Os problemas do uso contínuo de cocaína se manifestam desde a necrose do tecido nasal (pela aspiração da droga) ou das veias (no caso de ser injetada) até complicações cardíacas, circulatórias e cerebrais (derrame ou infarto).

O uso da heroína pode ser pelo fumo ou por veia venosa; no organismo ela é rapidamente convertida em morfina. A morfina é um dos opiódes mais conhecidos, a qual pode deixar o usuário dependente tanto psicológica quanto fisicamente e, como qualquer droga, os usuários precisam de doses cada vez maiores. A falta do uso da droga causa a síndrome da abstinência, onde o usuário começa a sentir náuseas , diarréia, cólicas intestinais, lacrimejamento, corrimento nasal, calafrios, tremores, ansiedade, hipersensibilidade a dor.


Um comentário: